Os lugares de onde vemos sentados + Treva ou os princípios da higiene funcional

Os lugares de onde vemos sentados é, sobretudo, um texto que custou muito escrever. Porque não é fácil escrever para teatro sem a perspetiva de estreia próxima, sem atores por perto, sem palco. Os lugares de onde vemos sentados é uma tentativa de reflexão sobre o ato de ver. Sobre o ato de nos sentarmos para ver. Sobre o ato de pagarmos para termos um lugar para ver.

Se é a tribulação entre internamentos e altas o que a desanima ou se foi parar ao hospital porque o inferno é aqui e agora –  não sabe. A sua voz confunde-se com a dos restantes. A bata branca dissolve-a na parede. Uns dias perdem-se dentro dos outros. Em clausura, recebe visitas e chamadas da mãe, do namorado, da mestre, dos que lhe restam. Não faz amigos entre médicos e enfermeiros. A sua terapia é a auto-análise: mede o presente e o passado e ficciona-se para produzir horas genuínas. O tudo-ou-nada é aquele quarto, onde cai e se levanta e onde começa a escrever um diário.