Conversas Secretas

22 mar - 4 mai 2000

autor Donald Mergulies
encenação Manuel Coelho
tradução, dramaturgia e cenografia Graça P. Corrêa
figurinos José Carlos
música Marco Franco e Rui Teixeira
desenho de luz João de Almeida
interpretação Fernanda Borsatti e Ana Brito e Cunha
coprodução TNDM II, Apoiarte/Casa do Artista

Conversas Secretas, peça de Donald Mergulies, nomeada para o Pulitzer Prize em 1997, apresenta-nos uma sonata a duas vozes, pungente e comovedora, onde se confrontam, em pé de igualdade, duas visões opostas sobre a arte por parte de duas mulheres formidáveis, em plena função da sua criatividade.

Inspirada na famosa controvérsia entre o romancista David Leavitt e o poeta Stephan Spender, que alegou que o romance de Leavitt teria sido copiado das suas memórias, a peça "cristaliza”, nas palavras do autor "os temas da juventude vs. os da meia idade, e ainda uma reflexão sobre a questão da influência”. Dizia Oscar Wilde, que "a influência é simplesmente uma transferência de personalidade, uma forma de entregar o que de mais precioso existe em nós o seu exercício produz uma sensação e, até mesmo, uma verdadeira noção de perda. Todo o discípulo rouba sempre qualquer coisa ao seu mestre”.


"O tempo é a escola onde se aprende O tempo é o fogo em que se arde”, escreveu o poeta Delmore Schwartz, uma das importantes personagens ausentes na peça "Conversas Secretas”. A peça desenrola-se ao longo de seis anos e apresenta-nos duas mulheres, ambas escritoras em pontos bem diferentes nas suas vidas respectivas. Ruth Steiner é uma escritora de contos já célebre, cuja chama se esvanecerá ao longo da peça – mas que, ainda antes, irá atear o fogo da mulher mais nova, acendendo a sua vela. Liza Morrinson é, no início, uma aluna talentosa e algo desajeitada, que se transformará na protegida-cúmplice-rival de Ruth, finalmente apropriando-se do seu fogo e até mesmo da sua tempestade interior.

Nesta obra de câmara bastante eficaz, Donald Margulies utiliza uma relação, afectuosa e inconstante de mãe-filha entre as duas escritoras para explorar questões de ética e de amizade, bem como de criatividade. Não é possível proteger as histórias da vida com direitos de autor – é isso que Ruth aprende quando Liza se utiliza das suas confissões secretas, acerca de um caso amoroso que teve com o poeta Delmore Schwartz, e o converte no romance da moda. Mas será possível copiar eficazmente a experiência de vida de um outro ser humano? Ruth jamais se utilizou desta experiência apaixonada e tempestuosa enquanto matéria literária porque, tal como confessa,
"há coisas que se guardam nunca se contam publicamente”.

Mesmo que não fosse este o motivo do confronto, o conflito torna-se eminente assim que a relação mestre/aprendiz se altera. Quando o tempo da intimidade é substituído pelo da rivalidade, originando uma mudança de status e uma revelação de objectivos opostos no exercício público da escrita. Neste sentido, encontramos nesta obra de Margulies respostas ferozmente inteligentes, e profundamente reflectidas, sobre algumas questões morais e éticas do nosso tempo. Conversas Secretas é uma peça cheia de ironia e de perspicácia, na qual o autor dá a voz a diferentes pontos de vista, sendo difícil perceber de que lado se coloca.
"Não tenho respostas para os conflitos que construo”, admite o autor, "acho que o papel de dramaturgo é ser o menos limitado possível ao retratar os acompanhamentos humanos”.

Eis uma peça onde os conflitos não surgem quando estamos à espera, onde nada é simplista, onde a interacção final entre dois egos colossais provoca um desenlace de uma teatralidade arrebatadora.

Através de um diálogo incisivo, repleto de ideias sobre a vida e a arte, esta peça revela-se como uma das grandes obras da contemporaneidade: profundamente emocionante, inteligente e divertida.

autor Donald Mergulies
encenação Manuel Coelho
tradução, dramaturgia e cenografia Graça P. Corrêa
figurinos José Carlos
música Marco Franco e Rui Teixeira
desenho de luz João de Almeida
interpretação Fernanda Borsatti e Ana Brito e Cunha
coprodução TNDM II, Apoiarte/Casa do Artista

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