Um

UM é um espectáculo de alunos finalistas da Licenciatura em Teatro da ESTC que procura lidar com algumas impossibilidades, atestando a apetência das coisas artísticas por missões infrutíferas, impossíveis e paradoxais. Interessaram-nos três impossibilidades:

a)    trabalhar a construção de um objecto que contrarie o princípio temporal de que uma coisa se segue a outra;

b)    criar uma unidade cénica plurivocal, enfatizando a mundividência de um corpo individual e evitando a todo o custo a contracena;

c)    tornar o estranho um lugar habitável, enquanto evocação perplexa e obscura do não dito ou do meramente intuído, sonhado, etc.

Talvez seja possível dizer que UM se situa na fronteira entre teatro e dança o que, só por si, já não significa nada, registando apenas a memória de um desconforto posicional e o desejo de um monstro. Este desconforto posicional já não é estético, é mais próximo do que sentimos quando estamos duas horas sentados ou trinta minutos de pé, sem nos mexermos. Explora, por conseguinte, a gravidade como motivo do movimento (est)ético e procura, ingenuamente, a suspensão. O desejo de um monstro, este sim é estético, na negação do princípio, meio e fim do animal.

David Antunes