PALAVRAS IBÉRICAS

O recital Palavras Ibéricas é um trabalho em progresso, já experimentado e adaptado em outros espaços. 

Parte do pressuposto de que Portugal e Espanha, embora países vincadamente distintos, com línguas, tradições e culturas sui generis, possuem afinidades, que lhe vêm da proximidade e da situação geográfica, que os separa do resto da Europa, e das influências dos vários povos comuns que os colonizaram. Sendo que ambos vieram igualmente mais tarde a tornar-se eles próprios colonizadores.       

Nesta geminação, que nem sempre foi pacífica, sobressaem hoje mais as afinidades, mesmo tendo em conta dois modos diferentes de buscar a sobrevivência e de resistir ao isolamento geográfico. Isolamento que permitiu misérias e abusos, combatidos também de formas diversas, consoante os momentos e os temperamentos. 

Os ciganos, sem paradeiro certo, os contrabandistas, que falam espanholês e tanto são de um lado como do outro, são afinal personagens paradigmáticas dessa idiossincrasia peninsular, bem como de toda uma arte de sobreviver que, mais tarde, contagiou também as terras colonizadas. 

As viagens trouxeram o sonho e a promessa, mas também potenciaram o sentimento de perda. Constante a presença do mar, ou pelo menos da água, mesmo que seja apenas no "sal das lágrimas”, o lirismo exprime-se sobretudo através de dois traços comuns: por um lado, a atracção marítima, concretizada na diáspora, e, por outro, um sentimentalismo apaixonado e nostálgico.

Lirismo comum à música dos instrumentos e à das palavras, que transpõe fronteiras e atravessa águas turbulentas e céus nem sempre amenos, e que tanto se encontra num texto de poeta premiado por académicos, como se esconde na letra de uma canção, que, por tão bela, se tornou também património.

Ser e Estar são dois verbos distintos no Português como no Castelhano, o que nem sempre se passa noutras línguas, mesmo da Europa: será esta distinção sintomática de um modo de vida comum aos dois falantes?